O que significa Eugenia
A eugenia, também chamada de eugenismo, consiste em uma série de crenças e práticas cujo objetivo é o de melhorar a qualidade genética da população.
Uma das justificativas para a existência da eugenia é a de que as raças humanas consideradas superiores prevalecem no ambiente de maneira mais adequada.
Por este motivo, muitas pessoas consideradas não dignas de transmitir suas respectivas hereditariedades a seus descendentes foram submetidas à esterilização contra vontade.
O conceito é tido por alguns estudiosos como uma filosofia social, ou seja, uma eugenia social cuja filosofia teria fins de organização da sociedade. No entanto, essa ideia não é aceita universalmente.
Origem do conceito de eugenia
Apesar de a prática já existir, o termo eugenia, palavra de origem grega que significa “bem-nascido”, foi criado pelo inglês Francis Galton, em 1883.
Francis Galton
Galton, primo de Charles Darwin, foi um cientista que tinha grande fascínio por assuntos relacionados à herança biológica. Ele acreditava que se fosse possível quantificar a hereditariedade, seria possível produzir seres humanos melhores.
O conceito de eugenia humana teve uma repercussão muito grande nos Estados Unidos. Desde a Revolução industrial, muitos camponeses migraram para as cidades com o intuito de buscar emprego e consequentemente uma vida melhor.
Durante este período, os Estados Unidos enfrentaram pela primeira vez um problema de distribuição social.
Além da migração dos camponeses, outra fato marcante foi a chegada dos muitos imigrantes que vinham especialmente da Europa.
O conceito de Galton, na verdade, buscava manipular a genética humana para melhorar gerações futuras.
No entanto, a eugenia acabou por assumir outras vertentes nos Estados Unidos, sendo considerada não só para possibilitar a reprodução de gênios (objetivo de Galton), como para evitar que pessoas consideradas inferiores e indignas de transmitir suas hereditariedades pudessem se reproduzir.
Surge então o que foi designado de eugenia negativa.
Saiba mais sobre hereditariedade.
Tipos de eugenia
Confira abaixo os dois tipos de eugenia existentes.
Eugenia negativa
A eugenia negativa tinha como objetivo impedir que pessoas consideradas 'limitadas' pudessem se reproduzir.
Eram consideradas pessoas 'limitadas', por exemplo, aqueles que tinham problemas mentais, doenças hereditárias, doenças contagiosas, etc.
O conceito de eugenia negativa se tornou tão presente na realidade dos Estados Unidos que chegou a se tornar constitucional no país.
Um dos casos mais famosos, ocorrido em 1927, foi o de Carrie Buck. A jovem vivia internada na Colônia Estatal de Virgínia para Epiléticos e Débeis Mentais e o superintendente do local na época considerava que ela não deveria ter filhos.
O caso foi levado à Suprema Corte e foi considerado que Carrie apresentava problemas acentuados de desenvolvimento mental. Com isso, em uma votação que terminou com 8 votos a favor e 1 contra, ficou decidido que a jovem seria esterilizada.
Foto de Carrie Buck e sua mãe em 1924
Desde então, em um veredito emitido pelo juiz Oliver Wendell Holmes Junior em 2 de maio de 1927, a esterilização de pessoas consideradas 'limitadas' passou a ser constitucional.
Eugenia positiva
A eugenia positiva, na verdade, consiste no conceito original da palavra eugenia: incentivar as pessoas consideradas superiores e saudáveis a se reproduzirem para, desta forma, dar seguimento a uma espécie humana com características consideradas desejáveis.
Essas características consideradas desejáveis contemplavam uma série de fatores como cor dos olhos, cor do cabelo, sobriedade e inclusive alguns pontos curiosos como amor pelo mar e genes de guerreiros.
Com isso, buscava-se aplicar a já desenvolvida teoria da seleção natural, de Charles Darwin.
Charles Darwin
A questão foi levada tão a sério nos Estados Unidos que foram organizados concursos em feiras agrícolas e até mesmo em universidades, para definir quais famílias eram mais aptas a se reproduzirem.
Nesses concursos, as pessoas eram submetidas a testes psicológicos, provas médicas e provas de inteligência, e eram obrigadas a disponibilizar um histórico familiar.
Àqueles que eram considerados aptos era dada uma medalha com a frase 'Tenho uma bela herança' como reconhecimento de suas capacidades.
Saiba mais sobre seleção natural.
Eugenia nazista
Apesar de ter se disseminado com maiores proporções nos Estados Unidos, a verdade é que as ideias e os conceitos defendidos pela eugenia se espalharam por todo o mundo.
Muitos atribuem a Hitler a ideia fixa de tentar estipular que determinada raça é superior à outra, mas a verdade é que basta um breve estudo sobre o que significa eugenia para que fique claro que esse conceito é anterior ao período da ditadura nazista.
No entanto, não se pode negar que Hitler colocou em prática os princípios eugenistas no que podemos chamar de eugenia racial.
A abordagem nazista não se contentou com a esterilização para prevenção de nascimentos e em determinados casos, aplicou o extermínio.
Com essa medida, surgiram os campos de concentração do Holocausto, onde milhares de judeus perderam as vidas.
Campo de concentração em Auschwitz.
Saiba mais sobre nazismo e Holocausto.
Eugenia no Brasil
Os primeiros textos sobre eugenia surgiram no Brasil em 1910, através de publicações da imprensa e de artigos acadêmicos no âmbito da medicina.
Em 1918 foi fundada a Sociedade Eugênica de São Paulo, fazendo do Brasil o primeiro país da América do Sul a sediar tal gênero de comunidade.
A Sociedade reuniu mais de cem associados, dentre eles engenheiros, jornalistas, médicos e alguns nomes da elite intelectual da época, todos liderados por aquele que foi considerado o pai da eugenia no Brasil: Renato Ferraz Kehl.
Além de fundador da Sociedade, Renato (que definia a palavra eugenia como “religião da humanidade”) foi um médico natural de São Paulo, que trabalhou em atividades voltadas para o saneamento rural e a educação higiênica e sanitária.
Foi também responsável pelo lançamento do Boletim de Eugenia (em 1929), publicação que circulou durante quatro anos com o intuito de divulgar medidas eugênicas entre os brasileiros. No mesmo ano, foi realizado o Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia.
No início do século XX, acreditava-se que os negros eram responsáveis pela existência de uma série de epidemias.
Dessa forma, para os intelectuais da época, a eugenia seria uma forma de realizar um espécie de “higiene social”. Todo aquele que não se enquadrava no conceito de raça superior estabelecido era considerado um mal a ser combatido.
Um dos principais objetivos da eugenia brasileira era o de combater a imigração para evitar misturas de raças no futuro, garantindo assim a conservação de características raciais e físicas consideradas boas.
De acordo com os padrões da eugenia, o grande índice de mestiçagem brasileira tornava inviável a existência do Brasil enquanto nação.
As ideias eugênicas consideradas capazes de solucionar o problema eram:
- Branqueamento: mistura de outras raças com a raça branca europeia com o intuito de branquear a população.
- Seleção de imigrantes: criação de uma proposta que sugeria o fim da imigração de não brancos.
- Educação sexual: com a intenção de garantir uma descendência sadia.
- Controle da reprodução humana: geração de filhos apenas entre casais considerados sadios (tendo em conta os padrões eugênicos) com o intuito de formar uma elite brasileira perfeita.
- Controle matrimonial: não realização de matrimônios entre raças e classes sociais diferentes.
Brasileiros influentes e posicionamento sobre a eugenia
- Monteiro Lobato: a favor da eugenia.
- Belisário Penna: a favor da eugenia.
- Octávio Domingues: a favor da eugenia.
- Edgard Roquette-Pinto: a favor da eugenia.
- Oliveira Viana: a favor da eugenia.
- Júlio de Mesquita: a favor da eugenia.
- Arnaldo Vieira: a favor da eugenia.
- Manoel Bonfim: contra a eugenia.
Saiba mais sobre racismo e preconceito racial.
Eugenia e Higienismo
A eugenia consistia em uma série de medidas que tinham como objetivo fazer com que a qualidade genética da população fosse melhorada.
O principal objetivo era garantir que pessoas consideradas “limitadas” (como por exemplo, pessoas com deficiências, com problemas de saúde hereditários, com doenças contagiosas, e de outras raças que não a raça branca) não se reproduzissem para garantir, dessa forma, que a população fosse formada por pessoas consideradas superiores, mais inteligentes e com características físicas consideradas “desejáveis”.
Tendo em conta esse objetivo, foram adotadas algumas medidas como a esterilização de pessoas consideradas “limitadas” pois os higienistas julgavam que elas não eram dignas de transmitir hereditariedade, não realização de casamentos entre pessoas de raça branca com pessoas de outras raças, etc.
O higienismo, por sua vez tinha como foco a melhoria da saúde da população através de medidas que defendiam alterações de padrões sociais e de certos comportamentos das camadas mais pobres.
O surgimento do higienismo deu-se após reflexões de médicos e sanitaristas relativamente ao constante problema de surtos epidêmicos de doenças como, por exemplo, a tuberculose e a febre amarela.
Algumas das medidas defendidas pelo higienismo foram:
- Tratamento da água.
- Aterramento de charcos.
- Posicionamento de cemitérios e matadouros em áreas afastadas da cidade.
- Regulamentação de uma altura mínima para os tetos das habitações de forma a garantir uma ventilação adequada.
- Recomendação de limpeza periódica das habitações.
- Criação de serviços sociais que orientavam em relação às condições de moradia.
Ponto em comum entre eugenia e higienismo
Tanto as medidas adotadas pelos eugenistas quanto pelos higienistas acabaram por gerar uma grande onda de preconceito e segregação em relação a determinada fatia da população.
Com a eugenia, negros, imigrantes, homossexuais e pessoas com graves problemas de saúde passaram a ser considerados inferiores.
O higienismo, por sua vez, trouxe um grande preconceito contra a população mais pobre pois as grandes epidemias que assolavam a população eram atribuídas às más condições de vida deles.
Diferença entre eugenia e higienismo
Apesar de terem como ponto comum o preconceito gerado contra parte da população, a eugenia e o higienismo apresentam como principal diferença as medidas utilizadas por cada um para atingir seus respectivos objetivos. Considera-se que de certa forma ambos buscavam a preservação das camadas privilegiadas da sociedade.
Enquanto a eugenia justificava seus fundamentos com base no âmbito genético (a hereditariedade de uma boa genética garantiria a existência/preservação de uma raça humana considerada superior), o higienismo fundamentava suas medidas na saúde (alteração de hábitos sociais e de higiene, principalmente das camadas mais pobres, melhorariam a salubridade).
O impacto dos princípios eugenistas na atualidade
Há quem atribua aos princípios eugenistas alguns problemas sociais que se perpetuam na humanidade de geração em geração.
Os princípios eugenistas de certa forma mostram, inclusive, de onde podem ter vindo os ideais de beleza e de perfeição aos quais a humanidade é submetida até hoje, e também muitos dos preconceitos existentes relativamente a etnia, constituição física, classe social e orientação sexual, por exemplo.
Certamente deixou marcas de cunho moral, com as quais a sociedade ainda nos dias de hoje se depara.
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Fonte: Significados
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